Polícia de São Paulo afirma ter identificado dois suspeitos do assassinato do ex-delegado-geral Ruy Ferraz Fontes
16/09/2025
(Foto: Reprodução) Polícia de SP pede prisão de dois suspeitos de matar delegado
A Polícia de São Paulo afirma que identificou dois suspeitos do assassinato do ex-delegado-geral da Polícia Civil de São Paulo, Ruy Ferraz Fontes.
A despedida ao delegado Ruy Ferraz Fontes lotou nesta terça-feira (16) o hall monumental da Assembleia Legislativa. O velório reuniu autoridades, parentes e dezenas de amigos e colegas de trabalho.
"O que eu posso falar dele é que ele foi um companheiro de trabalho muito competente, foi uma perda para o estado de São Paulo", comenta a delegada Elisabete Ferreira Sato.
"O Dr. Rui era um combatente. Desde que eu conheço o Rui, 40 anos atrás, ele se dedicou à investigação do crime organizado. Então, era um senhor delegado de polícia", diz Marco Antônio Desgualdo, ex-delegado-geral de São Paulo.
No meio da tarde, o caixão deixou a Assembleia e seguiu em carro aberto até o cemitério, onde o corpo foi sepultado.
Ruy Ferraz Fontes era casado e não tinha filhos. A carreira na Polícia Civil começou na década de 1980. O delegado atuou nos principais departamentos da corporação, até chegar ao DEIC, o Departamento Estadual de Investigações Criminais. Foi lá, investigando quadrilhas de ladrões de banco, que Ruy Ferraz Fontes prendeu Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola. O delegado acompanhou de perto a ascensão de Marcola na hierarquia do PCC. E passou a liderar as principais investigações contra os integrantes da facção.
Em janeiro de 2019, o então governador de São Paulo, João Doria, nomeou Ruy Ferraz Fontes como delegado-geral da Polícia Civil. Um mês depois, o delegado planejou e acompanhou a delicada transferência de 22 chefes do PCC para penitenciárias federais. Ficou no cargo até abril de 2022. Nesta terça-feira (16), Doria lamentou a morte de Rui.
"Eu nunca vi ele praticar o ódio. Ele praticava a boa polícia, planejava e realizava as tarefas como um bom policial que era. Uma grande perda, muito triste uma morte tão bruta, tão maldosa quanto essa", afirma João Doria Jr., ex-governador de SP.
Em 2023, Rui se aposentou e aceitou o convite para ser secretário de Administração da Prefeitura de Praia Grande, no litoral. Ele dizia não se preocupar com sua segurança, mesmo depois de tantos anos de combate ao crime organizado. Andava armado, mas sem escolta. Tinha carro blindado, mas só usava para ir a São Paulo.
Os jornalistas Gabriel de Campos e Aline Ribeiro entrevistaram o delegado no começo de setembro para a produção de um podcast do jornal O Globo em parceria com a rádio CBN. Na entrevista, Ruy Ferraz disse que nunca foi ameaçado por causa das investigações que fez.
Repórter: O senhor chegou a ser ameaçado por essas investigações?
Ruy Ferraz: Nunca. Nunca fui ameaçado. Teve uma conversa só, meio atrapalhada com o Marcola, mas nunca teve um, assim, um... desenrolar negativo. Ele é criminoso. Ele pratica o crime. Eu sou da polícia, eu investigo. Fiz alguma coisa errada para obter essa prova para investigação? Eu estou aposentado, eu não tenho proteção aqui. Eu moro sozinho aqui, eu vivo sozinho na Praia Grande, que é o meio deles. Para mim, é muito difícil. Se eu fosse um policial da ativa, eu estava pouco me importando. Porque eu teria estrutura para me proteger. Hoje eu não tenho estrutura nenhuma.
Os policiais que investigam o assassinato de Ruy Ferraz Fontes já reuniram indícios de que toda a ação foi cuidadosamente planejada. Os carros usados pelos assassinos, por exemplo, foram roubados na capital e há dias circulavam na Baixada Santista. Mas o que mais chamou a atenção mesmo foi a frieza e o preparo dos criminosos.
Pelas imagens das câmeras de segurança dá para ver que, além dos coletes à prova de bala, também usavam toucas e luvas. A rapidez ao descer do carro e a facilidade em manusear armas longas também sugerem que os assassinos tiveram treinamento. O promotor Lincoln Gakiya, que investiga o PCC, suspeita que a facção, de alguma forma, esteja envolvida no crime.
"São criminosos extremamente treinados com táticas militares de incursão, como a gente vê aí no vídeo. Os três homens que descem, um da porta traseira, um da dianteira e um do lado do passageiro, cada um já sai com uma função, que é guardar a retaguarda para que os carros não se aproximem e os dois fazem a volta no ônibus para dar o que a gente chama de confere que acabaram ceifando a vida do Ruy. A gente está diante de uma execução, sem dúvida nenhuma, com todas as impressões digitais do crime organizado", destaca Lincoln Gakiya, promotor de Justiça.
A investigação também apura se Ruy Fontes teria contrariado interesses como secretário de Administração em Praia Grande. O prefeito da cidade diz que ele não relatou ameaças.
"Nesses oito meses ele não passou nenhum sentimento de medo, nenhum sentimento de que estava preocupado, ele sempre estava sereno", diz Alberto Mourão (MDB), prefeito de Praia Grande.
Em Brasília, o ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, disse que já ofereceu ajuda da Polícia Federal.
"Claro que a responsabilidade da apuração é do governo de São Paulo, eu hoje liguei para o governador de São Paulo, prestando a minha solidariedade pessoal. Nós nos colocamos à disposição do estado, sobretudo ao que diz respeito à Polícia Científica. Tudo isso nós colocamos à disposição, se necessário, do governo de São Paulo", comenta Lewandowski.
Os investigadores já chegaram aos nomes de dois suspeitos. O governador de São Paulo Tarcísio de Freitas, do Republicanos, disse que a polícia já pediu a prisão temporária deles.
"A gente montou uma grande força-tarefa, essa força-tarefa vai estar em campo. A prioridade máxima é solucionar esse caso, nós não vamos deixar esse caso passar em branco, assim como a gente não tem deixado nenhum. Por isso, a melhor maneira de homenageá-lo nesse momento é solucionando esse caso, dando uma resposta devida aos criminosos, levando cada um para o banco dos réus", ressalta Tarcísio de Freitas, governador de SP.
Polícia de São Paulo afirma que identificou dois suspeitos do assassinato do ex-delegado-geral Ruy Ferraz Fontes
Reprodução/TV Globo
