Mulher com câncer espancada por ex-secretário de Calumbi relata momentos de terror: 'Gritei com toda a força que eu tinha'; VÍDEO
15/12/2025
(Foto: Reprodução) Luísa Barros, vítima de tentativa de feminicídio, relembra momento em que foi espancada por ex-secretário de Calumbi
"Ele batendo, batendo. Eu gritei, eu gritei com toda a força que eu tinha na minha alma. Eu gritei para eu estar aqui hoje falando”. O relato é de Luísa Barros, espancada com um bastão de madeira pelo marido, Numeriano Luiz de Sá (veja vídeo acima). Ele foi exonerado do cargo de secretário de Esportes e Lazer de Calumbi, no Sertão de Pernambuco, após ser preso por tentativa de feminicídio.
A vítima, que tem 55 anos e faz tratamento contra câncer no fígado, foi agredida em 10 de dezembro. Desde esse dia, ela está internada no Recife e segue sem previsão de alta. No leito do Real Hospital Português, no bairro do Paissandu, na área central da cidade, ela contou à TV Globo como foi salva da violência que sofreu dentro de casa.
✅ Receba as notícias do g1 PE no WhatsApp
“Eu estava pedindo socorro, gritando, mas eu já estava caída no chão”, disse Luísa. Ela foi resgatada por um vizinho que ouviu os gritos desesperados da vítima.
Quem chegou ao apartamento dela para ajudá-la foi o jornalista Márcio Santos Silva, vizinho do andar de cima. “Eu estava sabendo que podia morrer. Aí eu escutei os passos na escada. Eu disse: ‘Meu Deus, vem alguém, vem alguém. Deus está mandando alguém pra me tirar daqui. Aí ele apareceu na porta’”, declarou Luísa.
O vizinho correu para resgatar Luísa assim que percebeu de onde vinha a gritaria. “Os gritos [eram] muito intensos, pedidos de socorro, então o nosso prédio inteiro foi à sacada, tentando ver de onde era, o prédio ao lado também e não dava para identificar se era no nosso prédio ou no vizinho. Fomos para a janela e eu perguntei a uma vizinha: ‘É aí ou aqui?’. E ela apontou pra baixo”, disse Márcio.
Segundo Márcio, a cena foi desesperadora. “Estavam os dois no chão, Luísa toda ensanguentada. Ele [Numeriano] dizendo que ela tinha batido a cabeça, mas eu só lembro do olhar dela e das mãos estendidas”, relatou o jornalista.
LEIA TAMBÉM:
Vítima foi agredida quando se abaixou para pegar remédio
Luísa estava consciente, mas muito ferida. “Eu disse: ‘Não, não, não foi isso, foi ele. É ele que está fazendo isso comigo, me tire daqui’", afirmou a vítima. Eu só fazia assim para ele me tirar, e ele me agarrou pelo braço e saiu me sustentando, sustentando as minhas pernas porque eu não estava conseguindo andar direito”, contou.
A agressão aconteceu dentro do apartamento do casal, que estava junto há 22 anos. Luísa pediu ajuda ao marido, de 64 anos, para pegar uma caixa de remédios que tinha caído embaixo da geladeira. Ao se abaixar, ela sentiu o primeiro golpe.
“Quando eu me abaixei, que vou voltando, senti aquela pancada. Eu pensei que eu tinha levantado e batido no móvel, só que não tinha como eu bater no móvel, já que o móvel era alto, mas eu achei que tinha batido mesmo assim”, disse Luísa.
Em seguida, veio outra agressão. “Com essa outra pancada, eu caí com a cabeça para o chão, já caí de costas”, contou. Sem entender que estava sendo vítima de violência, Luísa pediu ajuda ao marido. “Eu fui dando a mão a ele, só que aí eu vi ele com o objeto. Aquele negócio de madeira", contou, referindo-se ao bastão com que foi agredida.
Luísa chegou à emergência quase duas horas depois, chorando e sangrando. Ela teve múltiplas fraturas na cabeça e no rosto, quebrou o nariz, perdeu três dentes. Uma avaliação oftalmológica será realizada para saber se houve comprometimento da visão.
Além de ex-secretário de Esportes e Lazer de Calumbi, Numeriano Luiz de Sá é sargento reformado da Polícia Militar. Em nota, a defesa dele pediu que o “histórico de integridade” seja considerado e solicitou “serenidade” para aguardar a conclusão do inquérito, evitando “julgamentos precipitados”.
Após ser agredida, Luísa passou a receber apoio psicológico e jurídico. De acordo com a advogada criminalista Manuella Magalhães, a vítima já relatava ter sofrido violência psicológica.
“Ela já tinha relatado para a gente que vinha passado por violências psicológicas, morais, verbais, e que, na verdade, ela acabava naturalizando, porque ele era o companheiro dela e manipulava falando que ele fazia um grande favor de estar com ela”, afirmou a advogada.
Luísa tenta se recuperar dos traumas físico e psicológico. “Eu acho que, às vezes, o relacionamento acaba, e a gente permanece no relacionamento quando ele não existe mais. Aquela pessoa que você conheceu só está na sua imaginação, ela não está mais com você, de verdade. Se conseguir identificar, saia. Saia antes”, aconselhou a vítima.
Luísa Barros foi vítima de tentativa de feminicídio no Recife
TV Globo/Reprodução
Atendimento para mulheres vítimas de violência
No Recife, mulheres vítimas de violência podem receber acolhimento, atendimento multidisciplinar e orientações de profissionais especializados nos seguintes locais:
Centro de Referência Clarice Lispector: Rua Doutor Silva Ferreira, 122, Santo Amaro (atendimento 24 horas);
Serviço Especializado e Regionalizado (SER) Clarice Lispector: Avenida Recife, 700, Areias (atendimento de segunda a domingo, das 7h às 19h);
Salas da Mulher em cinco unidades do Compaz — Eduardo Campos (Alto Santa Terezinha), Ariano Suassuna (Cordeiro), Dom Hélder Câmara (Coque) e Paulo Freire (Ibura).
Além disso, existe um Plantão WhatsApp, com funcionamento 24 horas, no número (81) 99488-6138.
Saiba como denunciar
Em Pernambuco, as denúncias de violência contra mulher podem ser feitas através do telefone 180, da Central de Atendimento à Mulher, que funciona 24 horas por dia, inclusive aos finais de semana e feriados;
A Polícia Militar pode ser contatada pelo 190, quando o crime estiver acontecendo;
Também é possível, no Grande Recife, fazer denúncias pelo Disque-Denúncia da Polícia Civil, no número (81) 3421-9595;
O Ministério Público de Pernambuco (MPPE) também pode ser acionado de segunda a sexta-feira, das 12h às 18h, através de uma ligação gratuita para o número 0800.281.9455;
Outra opção é a Ouvidoria da Mulher de Pernambuco, que funciona pelo telefone 0800.281.8187;
Os endereços e telefones das Delegacias da Mulher podem ser consultados no site do Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE).
VÍDEOS: mais vistos de Pernambuco nos últimos 7 dias
